O sapo


Era uma vez, em um reino não tão distante, um pântano, cheio de vida e principalmente de sapos.

Todos os dias era a mesma coisa: acordar, coaxar, comer uma mosca ali, uma mosca aqui, fugir de algum predador tentando a sorte...

De vez em quando aquele pântano recebia a visita ilustre de uma princesa ou mesmo de uma sonhadora querendo achar o seu "príncipe-sapo". E ai era aquela sessão de beijos daqui e para lá. Infelizmente era muito raro alguma delas encontrar o seu "feliz para sempre" ali, mas às vezes acontecia.

"Está mais difícil" disse um sapo para o outro após uma breve serenata de "coachs coachs". "Realmente" respondeu. De fato, as visitas estavam tornando-se cada dia mais raras e a maioria dos pobres amaldiçoados daquele pântano tinham menos esperanças.

Foram meses e meses sem sinal de alguma princesa disposta a transformar algum sapinho sortudo em príncipe — até parecia que nenhuma delas lia mais os contos de fada.

Entre os sapos daquele pântano existia um que já não mais acreditava que se tornaria príncipe. "Há tantos sapos melhores, então por que justo eu seria escolhido?" pensava ele. Seus amigos tentavam animá-lo, mas ele era irredutível.

Foi então que, certo dia, sem avisar e surpreendendo a todo mundo, uma linda princesa de cabelos curtos, olhos cor-de-jabuticaba e sorriso brilhante aparece. Fez-se a confusão.

Sapos mais experientes "partiram para o ataque": uns de forma menos agressiva e outros já querendo ir para as via de fato, sem mesmo antes terem transformado-se. Enquanto isso o que não acreditava mais em si e no seu "feliz para sempre" mantinha-se observando, sem falar ou mesmo fazer alguma coisa.

Após ter conhecido, conversado e até mesmo fugido de vários sapos, a princesa repara no sapinho ao fundo, apenas observando. "Que curioso" pensou ela. "Por que será que apenas ele não fez nada?"

— Bom dia, meu caro sapo — cumprimentou.

— Olá, minha princesa — respondeu ele. — Se permite a este humilde servo perguntar: qual é o motivo de tão inesperada visita?

— Por favor, sem formalidades. Cheguei a este pântano porque minha amiga não sabe passar instruções. Estava a ir para o castelo dela, mas como tu já pudeste perceber, cá estou.

— Desculpe-me, mais uma vez, mas fico feliz por sua amiga ser meio estrambelhada e tê-la passado mal as instruções, afinal, caso não fosse isto, não estaríamos agora a conversar.

Antes de tornar a responder, a princesa observa o sapo. Ela não sabia dizer o quê, porém, alguma coisa nele chamava a atenção dela.

— Agora é minha vez de ser intrusa — disse ela, retornando de seu breve devaneio —: como tu vieste parar aqui?

— Como todos os homens, minha princesa. Todos somos sapos até que aparece alguém disposto a transformarmo-nos em príncipes.

— E como faço para eu transformar-te num príncipe?

Agora foi o sapo que a observou: "como assim transformar-me em príncipe?" pensou ele em responder, mantendo-se calado, todavia. "Por um acaso tu és cega?"

— Desculpas, não entendi tua pergunta.

— Como posso eu transformar-te em príncipe?

— Com um beijo, apenas.

Sem avisar, a princesa beija o sapinho — que vai aos céus. Então a mágica acontece: um forte brilho toma conta dele e quando este passa, um rapaz de olhos verdes — e agora apaixonado — surge no lugar.

— Princesa, fizeste algo que jamais imaginei. Agora, por tua causa, sou isto: o príncipe mais feliz do mundo.

E assim, de forma completamente inesperada — ou mais detalhes —, o pântano daquele reino não tão distante tinha um sapinho a menos.

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