BRANCA DE NEVE E OS SETE LADRÕES — CAPÍTULO DUPLO (FINAL)

De pele branca como a neve e lábios vermelhos como a noite, seu nome era Branca de Neve. Mas não se engane: conhecida por todos, e odiada por sua madrasta, ela e sua grande (e quem sabe algo a mais) amiga Jana vão passar por tribulações e provar que ambas têm força para lutar e para vencer!

CAPÍTULO ANTERIOR

XIV
O BOTÃO DE ROSA


O sol já raiava no horizonte quando Annett, vestida como uma velha e carregando a cesta com as rosas vermelhas vai pela floresta.

Fazendo conforme o espírito da Lua havia lhe dito, ela segue confiando em seus instintos e, principalmente, em seu coração, até finalmente chegar ao quase labirinto feito pelos sete Dieb e, logo depois, ao chalé.

Ao avistar o chalé, em meio a uma clareira, seu coração dispara. “Então é aqui que Branca de Neve se esconde”.

Dentro da residência Marko, David e Martin jogavam cartas, enquanto o restante de seus irmãos dormia. Branca e Jana haviam encontrado alguns romances velhos que havia pertencido à Senhora Dieb e agora se deliciavam deles.

— Ei! Você está roubando! — Exclama Marko ao ver mais uma vitória de Martin. — Mostre-me suas mangas!

— Ora, seu...! — Responde o irmão, subindo na mesa com o punho levantado.

— Por favor! — Intervém David, impedindo Martin de socar seu irmão Marko. — Cavalheiros... Não vamos brigar! E, por favor, Marko, deixe de ser criança! Você sabe muito bem que Martin sempre foi bom com as cartas.

— Bom até de mais... — Murmura Marko, em resposta, lembrando-se que desde pequeno seu irmão sempre soubera como ganhar uns trocados a mais, de uma forma não tão honesta, no jogo de cartas.

Neste momento Annett bate na porta, assustando aos três irmãos — e fazendo com que Martin deixasse cair um amontoado de cartas de baralho que ele tinha escondido na roupa — assim como Branca de Neve e Jana, que saltam do sofá.

“Branca! Jana! Rápido, por aqui!”, ordena David, levando-as até os fundos da casa. “Marko, atenda à porta”.

O mais irritadiço dos Dieb queria, antes de tudo, partir para cima de Martin, porém sabia que não valeria a pena brigar, por enquanto.

Ao abrir a porta e encontrar com Annett, Marko surpreende-se: achava que ali estaria alguém, no mínimo, armado até os dentes e pronto para açoitá-lo quando ele menos esperasse.

— Pois não, senhora? — Indaga ele à velha. Alguma coisa nela; no olhar dela, fazia com que ele se esquecesse de tudo e de todos e uma forte sensação de ternura e paz transpassavam sua alma.

— Bom dia, meu jovem! Eu sou uma simples vendedora de rosas e venho oferecer-te este lindo botão vermelho. Veja! Veja o quanto ele é bonito. — Responde a rainha, entregando a Marko uma das rosas da cesta.

De fato, o botão vermelho agradava muito aos olhos do rapaz. Era de um vermelho intenso... Um rubor quase tão forte quanto o sangue a correr em suas veias e de um cheiro doce que o embriagava tanto quanto as aguardentes que seu irmão Steffen bebia.

— Quanto custa? — Pergunta Marko, ainda hipnotizado.

— Ó, nada, meu belo rapaz. Leve de presente para uma pessoa que você admira muito.

Os dois despedem-se e Annett vai embora.

“E então, Marko? Quem era?” pergunta Martin ao ver o irmão fechando a porta. Sem dizer uma palavra, o homem vai em direção a Branca de Neve e a entrega a rosa vermelha. “Para uma pessoa que eu admiro muito” diz ele. Inocentemente, a jovem princesa cheira o botão vermelho e, quase que imediatamente, cai desmaiada no sofá. “O que você fez?!” Esbraveja Martin, ao ver a princesa caída no chão.

— Eu... como... Ei?! — Responde Marko, como quem acorda de um transe. — Branca de Neve?!

— Quem estava na porta? — Pergunta David

— Não sei... Era uma velha que se dizia vendedora de flores. Ela me ofereceu uma e disse que era para eu dá-la a pessoa que eu mais admirava.

Jana observava a tudo quieta, imóvel. Ver sua irmã de criação e, claro, sua grande amiga caída, fez com que ela se lembrasse de Grabriele e Doreen. “Jana, por favor: vá chamar Steffen, Jan, Mathias e o Leon! Essa bruxa velha não deve estar muito longe!” ordena Martin, tirando a última das damas de companhia de seu transe.

Não muito longe dali, escondida em meio às árvores, Annett aguardava. Pela primeira vez, em muito tempo, ela tinha a certeza de que tinha conseguido exatamente o que ela queria. Só havia um porém: mesmo feliz por parte do plano do espírito da lua ter dado certo, uma estranha inquietação transpassava sua alma.

XV
O ÚLTIMO PEDIDO DO REI


Os sete irmãos, com todas as armas que conseguiam carregar, saíram floresta à dentro em busca da senhora vendedora de rosas. Tinham a esperança de que, ao encontrá-la e sob ameaça, a bruxa revelasse como trazer de volta à consciência à jovem princesa. No chalé ficou Jana, cuidando — e velando — a amiga.

A expressão de Branca de Neve era de paz e tranquilidade; uma tranquilidade que há tempos sua dama de companhia não via em seu rosto. “Acho que sinto um pouco de inveja de você” diz ela. “Finalmente você descansou de tudo isto...”

Mesmo com os passarinhos cantando do lado de fora, um silêncio mórbido reinava no cômodo onde Branca e Jana estavam; um silêncio pesado e desagradável.

Uma culpa toma conta de Jana: ela queria chorar, mas suas lágrimas simplesmente não vinham. Era como se a situação fosse um poderoso alucinógeno que transformava tudo em um grande pesadelo.

Com os Dieb já bem distantes, na floresta à sua procura, Annett volta ao normal e retorna ao chalé. Com um feitiço simples, ela destranca a porta e entra. Jana toma um susto ao ver a rainha.

— Senhora...! — Exclama ela, paralisada pelo medo. — Não!

— Jana... Minha doce Jana... — Responde Annett, com um tom fraternal que deixou a jovem amiga de Branca de Neve ainda mais assustada. — Entenda que isto é para o bem do reino. A rainha sempre tem que ser a mais bela entre todas.

Jana desespera-se, pois, além de não conseguir se mexer, ela vê na mão da rainha um punhal. Uma sensação de impotência transpassa sua alma e finalmente suas lágrimas surgem.

— Eu prometo que será breve e sua amiga não ira sofrer. — Torna a falar Annett, desta vez olhando fundo nos olhos de Jana.

Enfim tudo iria se realizar: a rainha iria ter o coração de Branca de Neve e, com isto, se manteria jovem até os fins de seus dias. Ela levanta o punhal sob o peito da enteada e prepara-se para dar golpe, contudo, suas mãos simplesmente não respondem. “Não agora!” exclama ela para si “eu não fui tão longe para desistir agora!”

Um conflito interno toma conta da rainha: uma parte dela queria desistir, voltar ao palácio e fingir que nada daquilo havia acontecido, porém, outra parte insistia em continuar, usando como principal argumento o aviso que o espírito da Lua a tinha dado.

— Você... — diz Jana, com o rosto já lavado pelas lágrimas — você não consegue...

— Cale a boca! — Exclama a rainha, alterando-se.

— O reio... não... o pai dela pediu para que você cuidasse dela, não pediu? Disse que você seria a nova mãe dela, mas no fim você não foi.

— Eu já disse para você calar sua boca!

— É por isso que você não consegue: você amava de verdade o rei e, mesmo sentido inveja da filha dele, você simplesmente não consegue descumprir o último pedido dele.

Uma fúria toma conta da rainha. Ela queria, antes de Branca de Neve, acertar o punhal em Jana, porém, novamente seus braços não a obedeciam. Foi então que uma alternativa passou por sua cabeça, “A única alternativa”, pensou ela.

Em um único golpe rápido Annett apunhala seu próprio coração, caindo morta no chão. A jovem dama de companhia surpreende-se, ficando alguns minutos refletindo a respeito do que seus olhos haviam acabado de presenciar.


“Jana, somos nós”, anuncia David ao voltar ao chalé. “Jana... Mas o quê...?!” Exclama ele ao ver Annett caída morta no chão e Jana paralisada, ao lado. “O que aconteceu aqui?”

A dama de companhia conta tudo aos irmãos, que em seguida pegam o corpo da rainha e o levam para os fundos.

— E agora, como faremos para despertar Branca de Neve? — Pergunta Marko a David, com uma raríssima expressão de tristeza.

— Desta vez eu não sei, meu caro irmão. — Responde David.

— Talvez existam outras bruxas pelo reino. — Diz Leon, entrando na conversa. — Se nós pagarmos, tenho certeza que alguma delas nos dirá como trazer de volta Branca de Neve.

Uma luz de esperança ascende-se nos sete irmãos, contudo, Jana continuava impassível, apenas a observar o rosto da amiga.

— Jana... não se preocupe. Nós daremos um jeito. — Fala David tentando consolá-la.

— Eu sei... Será que eu posso ficar um pouco sozinha com ela?

— Ah! Sim... Irmãos, venham comigo! Vamos dar um jeito no corpo daquela bruxa.

“Você se lembra da primeira vez que dançou com um rapaz?” pergunta a jovem dama de companhia, fazendo um cafuné na amiga. “Lembra-se que eu te perguntei se vocês tinham se beijado e você tentou me esconder que ainda não tinha dado seu primeiro beijo? Eu nunca consegui esquecer aquele momento, por mais que eu tentasse.” Lágrimas tornam a banhar seu rosto.

Jana abaixa-se e beija a testa de Branca de Neve, depois para por alguns momentos observando seu rosto e depois torna a beijá-la, desta vez na boca.

Uma verdadeira tempestade de emoções toma conta da dama de companhia. Por um instante, apenas, ela viu-se novamente no quarto da jovem princesa na noite em que havia dado o primeiro beijo dela. Foi por apenas uma fração de segundo, mas valeu como a maior felicidade de sua vida.

De repente a voz de três dos irmãos Dieb cortam o chalé na forma de um grito: o corpo de Annett desaparece em voltou a uma imensa labareda azul. Jana dá um salto e Branca de Neve abre os olhos. “Jana!” exclama ela, com o mesmo olhar de quem acorda e não sabe nem quando nem onde está.

Nenhum comentário:

Postar um comentário