O Novo Caso do Cupido


Diz a lenda que Vênus mandou seu filho Cupido a Psique a fim de mostrar a ela o quão terrível era cair na desgraça de uma deusa. Aconteceu, no fim, que o pobre deus acabou se embananando com suas flechas ao ponto de ser atingido por uma delas, fazendo com que ele se apaixonasse pela jovem humana.

Foi partir dai, ainda segundo a mesma história, que alma e paixão juntaram-se para sempre, num eterno misto de sofrimento e alegria.

Realmente tudo muito interessante; tudo muito bom... mas e quando nós, pobre mortais, nos vemos atingidos pelas malditas flechas do filho da deusa do amor? Apesar da grande beleza de Psique ter sido justamente sua maior sina, foi por causa dela — e, claro, de sua imensa simpatia — que ela havia conseguido resolver diversos problemas. E conosco, nem belos nem feios, como agimos?

O Cupido apenas nos atinge com suas flechas, mas não nos ensina como proceder depois disto.

Aconteceu durante um dia fatídico — mesmo eu não fazendo ideia do que "fatídico" signifique. Estava eu, em meu canto, como sempre, a conversar com uma colega — que se aproveitava, e muito, da bateria do meu celular ouvindo músicas pela internet. Sorte dela que as músicas que ela ouvia eram realmente boas.

Conversa vem, conversa vai, uma colega tímida chega, com o mesmo rosto de quem teve um dia daqueles. Cumprimento-a e ela some.

— Acho que ela fugiu. — Digo eu, brincando com a situação.

— Como assim? — Pergunta minha colega. — Por um acaso você está paquerando a menina?

Foi realmente uma surpresa ouvir aquela pergunta. Melhor dizendo: não tinha passado pela minha cabeça tal situação — lembram-se da história do Cupido e Psique?

— Não! — Respondo, enfático. — Por que se eu tivesse fazendo isso, ela realmente estaria fugindo.

Não demora muito e ela retorna. Conversamos e trocamos textos. Minha colega despede-se — não sem antes me deixar com a bateria do celular com menos sessenta e cinco porcento da capacidade — e vai embora.

Depois, no intervalo, e já rodeado por mais colegas e amigos, o Cupido volta a me assombrar: "Disseram que eu estava paquerando, mas eu não sei como". Defendo-me ao ouvir, novamente, aquela história. "Foi tudo inconscientemente" diz uma amiga, aproveitando para tirar ainda mais sarro da situação.

"Será mesmo?" Em todo o caso, sempre há a "prova dos noves". E a minha era outra colega, que conhecia tanto a mim quanto a minha colega tímida.

— Então... Eu tinha reparado que tinha acontecido alguma coisa, mas não sei o quê. — Diz-me ela após eu explicar toda a situação.

E eis o Cupido novamente infernizando-me. Fazendo chacota da minha cara e de meu coração. Será que ele, tal como sua mãe, não têm piedade pelos pobres mortais? Será que tratá-los como mitologia e não mais como religião os enfureceram?

Deve ser esta a resposta!

De qualquer forma, não como num conto mitológico, mas em um mato sem gato nem cachorro, cá estou eu novamente.

Vamos ver qual será o resultado...

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