Quase uma tragédia grega

Havia sido um final de férias maravilhoso! Maravilhoso com quase todos os detalhes que um bom livro romântico deve ter: risadas, sorrisos, alegrias... Faltava o "algo a mais", mas um dos dois estava satisfeito — mesmo por que como ele conseguiria resistir aquele perfume; aqueles longos cabelos esvoaçando sempre que ela os desprendia e, principalmente, aquele sorriso que, vira e mexe, surgia em seu rosto?

Em inglês, isto chama-se friendzone (a zona da amizade, em tradução literal). Em bom português podemos chamar de desilusão mesmo...

Aquele fim de férias não poderia terminar da melhor forma: uma tarde inteira junto a ela; uma tarde inteira vendo-a rir, sorrir e falar — mesmo que algumas coisas entrasse por um ouvido e saísse pelo outro.

Por ser o fim do período em que fazer nada torna-se uma obrigação, e não uma escolha, reencontrar-se ficara complicado. O único jeito era esperar o próximo sábado — seis dias para pensar e refletir diversas coisas não só a respeito dos dois, mas também a respeito da própria vida; das próprias escolhas que poderiam machucar ou fazer alguém feliz.

A expectativa era grande... Tudo seria reescrito, realizado... Aquele sorriso, aquele cheiro... Tudo... Tudo novamente...
Mas as Moiras — aquelas três senhoras responsáveis pelo o que vai acontecer com os deuses e os mortais — são implacáveis e, diversas vezes, cruéis — e não estavam muito a favor de reescrever algo que já tinham tecido na semana anterior.

Acho que tem a ver com a roda da fortuna, ou coisa do tipo... De qualquer jeito, elas não estavam de acordo que ela o visse naquele próximo sábado — ou, ao menos, era essa uma boa forma de não pensar em algo doloroso.

Porém, se as Moiras não estavam de acordo com ele, Afrodite e seu filho Eros só sabiam atormentá-lo. Noite após noite Afrodite, transfigurada nela, aparecia em seus sonhos indo além dos que os bons livros românticos podem narrar sem irem para as prateleiras dos "inapropriados para menores de 18 anos". No início eram lindos sonhos, mas depois de um tempo — e das trapalhadas de Eros —, transformaram-se em pesadelos.

"O pior estava por vir", completava uma voz na cabeça dele, "o pior ainda está por vir"... Ele sabia que nunca a teria realmente; ele sabia que era impotente perante algo que desconhecia — Atena, sua melhor amiga, até havia tentando ajudá-lo, mas o que a deusa da sabedoria e da estratégia poderia contribuir contra as artimanhas de Afrodite e de Eros?

E o pior veio... Eros, já cansado de sua forma de criança brincalhona, resolvera dar o golpe final, traçado juntamente com as Moiras: um outro rapaz; um alguém que, até aquele momento não fazia parte desta história, surge na vida de ela e a faz conhecer Dionísio, que a ensina o valor dos exageros, especialmente aqueles que nos são reservados da juventude ao fim da vida.

E o rapaz? Quem se importa? Depois de Dionísio, o que restara era apenas um projeto de sujeito, perdido em um mundo ilusório que Afrodite ainda insistia em prendê-lo.

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